Solange Hiller Herthz Santos[1]
Resumo
Não é raro encontramos nos arquivos
públicos acervos de particulares. O Arquivo Público do Piauí (APPI) tem sob sua
guarda a documentação pessoal do jornalista Joel de Oliveira, considerado nosso
maior paremiólogo. Este artigo tem o objetivo de descrever os cadernos pessoais
do citado escritor, indicando as características físicas dos documentos, seu
conteúdo e a metodologia para a descrição dos cadernos. Para atingir esses
objetivos realizamos uma sucinta revisão da literatura pertinente ao tema. Para
a descrição do acervo adotamos a ISAD (G): norma geral de descrição
arquivística. Selecionamos o catálogo como instrumento de pesquisa. Esperamos
com esse estudo apresentar à academia e ao público interessado uma parte da
vida do jornalista e colaborar com informações que possam complementar as
fontes de pesquisas históricas. Finalizamos com as referências.
Palavras-chave:
Arquivos pessoais. Oliveira, Joel. Arquivo Público do Piauí.
1 INTRODUÇÃO
O desejo de
estudar a documentação do jornalista Joel de Oliveira nasceu da experiência em
trabalhar na Hemeroteca do Arquivo Público do Piauí (APPI), ele doou suas
coleções de jornais e revistas para o APPI. Posteriormente uma parte da sua
documentação pessoal nos foi confiada, incluindo sua coleção de cadernos
pessoais. Estes constituirão o foco do presente trabalho e serão denominados Coleção
de Cadernos.
Inicialmente, foi montado um quadro de arranjo
da documentação e a partir do panorama que esta ferramenta de classificação nos
permite visualizar, temos a descrição documental dos cadernos de anotações
pessoais, onde destacamos os descritores: características físicas dos cadernos;
a realização de um resumo de seu conteúdo e os principais dados a partir da ISAD (G): norma geral de descrição
arquivística.
Mas porquê essa documentação encontra-se no APPI?. Para responder,
revisaremos alguns pontos importantes, começando por nossa legislação. No Brasil, a Lei 8.159, de 8 de janeiro de
1991, estabelece a política nacional de arquivos públicos e privados. O
Capítulo 2, artigo 2°, oferece a definição de Arquivo:
Conjunto de documentos produzidos e recebidos por órgãos públicos,
instituições de caráter público e entidades privadas, em decorrência do
exercício de atividades específicas, bem como por pessoa física.
Ou seja,
consideramos arquivos o conjunto documentos de origem pública ou privada. E
ainda com a Lei 8.159, encontramos no Artigo 12: “Os arquivos privados podem ser identificados pelo Poder
Público como de interesse público e social”.
A
legislação em destaque pontua e conceitua arquivos, mas precisamos caminhar
para uma abordagem teórica, a qual na área de Arquivos no Brasil, Heloísa
Liberalli Bellotto é uma referência:
... papeis ligados à vida familiar, civil, profissional e à produção
política e/ou intelectual, científica (...). Enfim, os papéis de qualquer
cidadão que apresente interesse para a pesquisa histórica (BELLOTO, 2004).
Analisando as definições acima se subtende que as pessoas físicas
formam arquivos. Alguns arquivos públicos recebem a documentação pessoal de
homens que exerceram funções públicas ou participaram da vida cultural de sua
cidade. Esse é o caso do APPI e tal documentação merece um tratamento
arquivístico.
2 O FUNDO Joel de Oliveira
Optamos
por inicialmente chamar de Arquivo Joel de Oliveira o conjunto documental do
referido jornalista, pois segundo Camargo (2009, p. 28) para os arquivos
pessoais “o mais correto seria dizer
arquivos de pessoas (desta ou daquela pessoa, tratada individualmente)”,
pois isso facilita o processo de individualização do conjunto documental.
Inicialmente,
a documentação foi organizada em “fundo”, que segundo o
Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivístico (2005, p. 87) é o: conjunto de documentos de uma mesma
proveniência”, isto é, o conjunto de documentos produzidos/recebidos durante a trajetória
institucional e/ou de vida de um produtor (pessoa física ou jurídica/pública ou
privada).
Para descrição do fundo utilizamos a ISAD (G): norma geral internacional
de descrição arquivística, 2ª edição, que fornece os elementos para descrição
de fundos arquivísticos.
Aplicando sua metodologia proposta, temos
inicialmente a seguinte ficha:
Fundo:
Joel de Oliveira.
Notação:
BR APPI JO.
Datas-limite:
1900-1943.
Dimensão
e suporte: 4 metros lineares de documentos,
principalmente textuais, composto de 92 volumes (códices) com recortes de
artigos de jornais nacionais; 53 cartões de compromissos sociais, 61 de
felicitações, 18 de cartões de temas gerais, 124 telegramas, 103 cartões-postais,
3 álbuns de Paris e um de Londres, 2 cadernos de anotações pessoais.
Nome
do produtor: Joel Genuíno de Oliveira
Biografia:
Joel Genuíno de Oliveira (1906 – 1969), mais conhecido como Joel de Oliveira,
piauiense de Campo Maior. Poeta, historiador e jornalista, é considerado o
maior paremiólogo piauiense. Escrevia em quase todos os jornais de Teresina sob
o pseudônimo de JobVial. Tinha por hobby colecionar publicações
piauienses. Histórico de fundo:
documentação doada ao APPI na década de 1980 pela família do jornalista.
Situação
jurídica: não possui documento legal que restrinja seu
acesso e uso.
Âmbito
e conteúdo: o fundo possui principalmente recortes de
artigos de jornais de circulação nacional e registro de atividades intelectuais
desenvolvidas pelo escritor.
Avaliação
e seleção: a documentação não sofreu processo de
avaliação no APPI, pois se trata de um fundo pessoal.
Incorporações:
trata-se de um fundo fechado.
Sistema
de Arranjo: o quadro de arranjo estabelece as séries:
Periódicos (PE) compreendendo as Subséries: Artigos de Jornais (AI); a Série
Produção Intelectual (PI) com a Subsérie Artigo (AR) e Subsérie Anotações
Pessoais (AP) e a Série Correspondência (CO) com as subséries Cartões (CA) e
Cartas (CT). Documentação ordenada cronologicamente.
Condições
do Acervo: facultado ao público. Os direitos de
utilização pertencem ao APPI.
Idioma:
Português
Instrumento
de Pesquisa: Catálogo de recortes de jornais:
Jornalista Joel de Oliveira (bibliografia sinalética, 1940).
Nota:
para descrição das unidades documentais (artigos de jornais) utilizou-se a NBR
6023: informação e documentação: referências: elaboração, 2002. Os códices
foram etiquetados. Os cartões e cadernos de
anotações pessoais foram acondicionados em envelopes com etiqueta de identificação
e guardados em caixa-arquivo.
Responsável
pela Descrição: Solange Hiller Herthz Santos, técnica do
APPI.
3
METODOLOGIA PARA DESCRIÇÃO DOS CADERNOS DE ANOTAÇÕES PESSOAIS
Iniciamos o trabalho,
realizando uma pesquisa bibliográfica, pois Lakatos (2009, p. 57) esclarece:
A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda
bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações
avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses,
material cartográfico etc .
As
fontes bibliográficas foram analisadas e fichadas, retirando os questionamentos
essenciais que permitiram elaborar o corpus
do trabalho. Paralelamente empregamos a observação como forma de coleta de
dados.
No
processo de organização do conjunto documental – em arquivos permanentes - é
mister definir o arranjo que segundo Schellenberg,(apud Belloto, 2004, p. 135)
é o “processo de agrupamento dos
documentos singulares em unidades significativas e o agrupamento, em relação
significativa, de tais unidades entre si”, ou seja, através do arranjo
estrutura-se a ordenação dos documentos provenientes dos arquivos correntes e
intermediários.
Percebemos
que o arranjo reflete a vida documental do produtor, desde o momento da criação
e/ou acumulação dos primeiros documentos, apresentado o fluxo documental e os
tipos documentais do produtor, dentre outras características.
O
arranjo apresenta a organização da documentação de forma lógica, entretanto é
através da descrição que os dados contidos no conjunto documental tornam-se
acessíveis aos pesquisadores.
A
materialização da descrição ocorre através dos instrumentos de pesquisa, ou
seja, de ferramentas que disponibilizam as informações de acordo com o nível
(instituição/empresa; fundo, grupo; série e unidade documental) e base da
descrição (conjuntos documentais amplos; séries; unidades documentais e assunto
e/ou corte temático).
Para
descrição dos cadernos de anotações pessoais do Jornalista Joel de Oliveira foi
escolhido o catálogo, pois o mesmo demonstra a relação orgânica entre o
produtor e suas atividades profissionais e intelectuais.
4
REFERENCIAL TEÓRICO
Vivemos
na era da globalização e a Internet permite que nos comuniquemos com pessoas
que estão há milhares de distância uma das outras, por isso se fala tanto em informação
e do fácil acesso a ela. O sentido de informação é extenso e o uso da mesma
também, ou seja, a informação é usada e reutilizada gerando novas informações
que alimentam novas informações num fluxo contínuo de conhecimento em série. Uma pessoa durante sua trajetória de vida acumula e
produz documentos - ou seja, informações que provam
momentos de sua vida, suas relações pessoais ou profissionais e seus
interesses. Tais documentos quando reunidos em conjuntos formam um arquivo
pessoal.
De acordo com Lopez (2003, p. 75):
(...) mesmo os documentos que não se enquadram estritamente nas
características típicas podem ser entendidos enquanto documentos de arquivos,
desde que tenham sido produzidos no decorrer de alguma função inerente à vida
do titular (...) e tenham sido preservados como prova de tal atividade.
De acordo com o texto acima os cadernos de
anotações do jornalista Joel de Oliveira são parte de um acervo arquivístico,
permitindo o desenvolvimento de atividades de arranjo e descrição arquivística
que garantirá a compreensão e disponibilização de seu conteúdo, facilitando o
acesso aos pesquisadores.
5 CATÁLOGO: CADERNO DE ANOTAÇÕES PESSOAIS DO
ARQUIVO JOEL DE OLIVEIRA
Devido ao grande volume de informações de cada caderno, optamos por
apresentar o resumo de um dos cadernos analisados e descritos. O catálogo
completo estará disponibilizado na Hemeroteca Joel de Oliveira - Arquivo
Público do Piauí/Casa Anízio Brito (Rua Coelho Rodrigues, 1016, Centro, CEP.
64000-160, Teresina-Piauí, Fone (86)3221-5541.
5.1 Caderno 1
Acervo
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Jornalista
Joel de Oliveira
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Código de referência
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Envelope
número 1
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Unidade de Arquivamento
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Anotações
Pessoais (AP)
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Gênero documental
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Textual
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Título
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[Caderno
1]
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Descrição
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Caderno
com 72 folhas. Tamanho: 21cm x 13,5cm. Encadernação em espiral. Uso de
canetas de cores diferentes. . Alguns assuntos apresentam títulos. È comum no
início de um assunto, a primeira letra ser cortada com um traço. Nas folhas
44-45, os assuntos estão organizados cronologicamente. Corriqueiro iniciar
assunto com um travessão e colocar um traço grande no meio da linha para
indicar mudança de tema. Da página 50-55, o autor denomina de “Adágios
versificados”. Folha 68 apresenta uma lista de dívidas. Assuntos principais:
Anátemas, Astronomia, Biografia,
Curiosidade, Educação, Etimologia, História, Legislação, Língua, Política,
Provérbios, Sociedade. Português típico da primeira metade do século XX.
|
|||
Referências onomásticas
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|||
Addis-Abeba
(Etiópia)
Albano
(poeta)
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Suporte
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Papel
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Técnica de registro
|
Manuscrito
|
||
Localidade
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[Teresina]
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Data inicial
|
[19--]
|
||
Data final
|
[19--]
|
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Idioma
|
Português
e latim
|
||
Autor
|
Joel
Genuíno de Oliveira
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Conteúdo do documento
|
|||
BR APPI JO PI AP Cad 1/01
|
Biografia
do Conselheiro Antonio Saraiva
|
||
BR
APPI JO PI AP Cad 1/02
|
Expressões
latinas
|
||
...
|
...
|
||
BR
APPI JO PI AP Cad 1/72
|
Índice
|
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Estado de conservação
|
Bom
|
||
Status
|
Disponível
para consulta
|
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os arquivos pessoais são
conjuntos documentais desafiadores para os arquivistas, primeiro porque não
seguem a lógica institucional, mas são orientados por interesses pessoais e
segundo porque podem colaborar na elucidação de fontes históricas tradicionais.
Os cadernos de anotações pessoais
do Joel de Oliveira fornecem um conjunto de informações que justificam a
alcunha do mesmo: maior paremiólogo piauiense, como também diversas informações
que podem colaborar nos estudos históricos piauienses.
Os cadernos Pessoais do
jornalista Joel de Oliveira são um importante patrimônio documental e cultural,
pois agregam valores que caracterizam uma parte da história piauiense do século
XX, merecendo, portanto, sua divulgação e preservação.
Documentary description and personal notes of
the Piauí State Journalist Joel Oliveira
Abstract
It is not that
rare to find in public private collections of files. The Public Archives of
Piaui (APPI) has under his care the personal documentation of this Piauí
journalist Joel de Oliveira, considered our greatest paremiologist. This article
aims to describe the personal notebooks of that writer, indicating the physical
characteristics of the document, its contents and the methodology applied for
description of his notebooks. To achieve these goals we carried a brief review
of the literature concerning the matter. To describe the archives, we adopted
the ISAD (G): general standard of
archival description, to be a rule of international archival description. We
selected the catalog as a research tool, to indicate the peculiarities of documentation,
because it allows the visualization of the various features of personal
notebooks. We hope to present this study to the academy and the public
interested in the thematic part of the life of this Piauí journalist
representing a time in our history as well as provide data that can complement
traditional sources of Piaui historical research. We end with references
Keywords:
Personal arquives. Oliveira, Joel. PublicArchivesof Piaui.
REFERÊNCIAS
ARQUIVO NACIONAL. Dicionário brasileiro de terminologia arquivística. Rio de Janeiro:
Arquivo Nacional, 2005.
BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento
documental. 2. ed. Rio de Janeiro, FGV, 2004
BRASIL. Lei nº 8.159, de 8 de
janeiro de 1991. Dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e
privados e dá outras providências. Diário Oficial da União,
Brasília, 9 jan. 1991. Seção 1.
CAMARGO, Ana Maria de Almeida. Arquivos pessoais são arquivos. Revista do Arquivo Mineiro. Disponível
em: http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/acervo/rapm_pdf/2009-2-A02.pdf>.
Acesso em 10 dez. 2014. Dossiê.
CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS. ISAD (G): norma geral de descrição
arquivística. 2. ed. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2000.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade.
Metodologia científica. 5. ed. São
Paulo: Atlas, 2009.
LOPEZ, André Porto Ancona. Arquivos pessoais e
as fronteiras da Arquivologia. Gragoatá,
Niterói, n. 154, p. 1-140, 2 sem. 2003.
[1] Bibliotecária/Documentalista.
Especialista em Crítica Genética e Organização de Arquivos. Instituto Dom
Barreto e Memorial Zumbi dos Palmares. E-mail: sol_arqui.bib@hotmail.com
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